sábado, 4 de dezembro de 2010

Exercite a beleza

Exercite a beleza. Mais do que corpos sarados e uma paisagem deslumbrante, a beleza está no modo de encararmos as situações da nossa vida. Não é raro, portanto, que coisas belas sejam tristes. E tristeza acompanha as frustrações nas relações sociais e amorosas; na atenção das condições desumanas de existência; no autocontrole dos nossos impulsos e o conseqüente sentimento de frustração do desejo reprimido; na consciência de futuro e a certeza da decadência de nossos corpos e do fim que nos espera, etc. Mas mesmo em cada um desses aspectos tristes, podemos enxergar a beleza, não é?
Muito mais do que pode parecer à primeira vista, momentos tristes podem ser vistos como belíssimos. Um belo filme pode ser – e não sem razão – um filme triste. Nesse caso, parece que “filme triste” e “filme bonito” são sinônimos, não? Mas como podemos enxergar beleza na tristeza?
Acredito que uma dose de consciência que surge da maturidade. E o exercício para enxergá-la é o da atenção cuidadosa – aquela atenção que a mãe tem com o seu bebe por saber que a vida dele é frágil e que depende inteiramente dela a sua sobrevivência.
Quando bebes, ficávamos expostos o máximo possível a todo e qualquer acontecimento externo e interno ao nosso corpo – sem defesas. Mas nessa fase não temos nenhuma consciência dos riscos que corremos e ficamos salvos da angústia e do medo. Nesta fase tudo nos é dado, como algo espontâneo.
Quando crescemos – envelhecemos – ocorre o contrário. A consciência aumenta. Cada vez mais tomamos ciência de nossa fragilidade no mundo. Sabemos que temos que ter cuidado com a nossa vida. Um cuidado quase de uma mãe com o seu descuidado bebe que significa carinho com a vida. E um cuidado que significa alerta para as situações inusitadas.
Parte do resultado de termos consciência é o de saber que a vida deve ser conquistada a cada dia. A sensação de saborear o mundo como uma papinha gostosa que chega prontinha pelas mãos carinhosas de nossas mães, ficou na infância.
Atentos à nossa fragilidade podemos nos surpreender com cada ato de nossa existência – como se o mínimo movimento vencesse toda a probabilidade de nosso fracasso. E mesmo sabendo de nossa impotência em relação às forças do mundo podemos nos encantar com os minúsculos eventos e vibrar de emoção até quando vemos tanta feiúra no mundo e quando somos golpeados pela fatalidade.
Assim, uma visão ampla de mundo - que não se disfarça na viseira de uma falsa promessa de vitória do ser humano sobre a vida - está atenta à beleza. O belo pode ser exercitado e sua presença pode acompanhar a pessoa que amadurece.
Sem querer concertar o mundo, quem amadurece pode cultivar a beleza que se torna oportuna nos momentos difíceis. Um profundo senso estético acompanha uma visão rica e madura da existência.
A nossa sugestão é que você pense e veja, sempre mais, o Belo. Valorize o que é significativamente importante e viva os ares da boniteza...